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A TRANSMISSÃO NA BFC

 

    A formação do analista não é outra senão a do inconsciente. Nesse sentido o caminho a percorrer é inerente ao singular e tem como norte o desejo e não um modelo padronizado de formação. Ou seja, assim como numa análise, os efeitos de formação surgem ao longo do caminho, e encontram na instituição um lugar de escuta e a possibilidade de uma formalização. Formalização que se dará na participação de cada um, mas principalmente através de uma escrita própria.             

    O analista é ao menos dois. O analista para ter efeitos e o analista que esses efeitos teorizam. O momento de refletir sobre seu ato se dará no formato príncipes do que Freud estabeleceu como a formação do analista, o tripé, por isso a Biblioteca Freudiana de Curitiba tem por função zelar por ele, deixando claro a importância que há na realização de uma análise pessoal e de controle, assim como o estudo da teoria psicanalítica.                 A formação se dará entre pares, não se faz sozinho, é um: nem só e nem juntos. Como numa análise, uma vez que aqueles que se deitam no divã serão assistidos sem ter uma assistência, assim como em um cartel, assim como em um grupo de trabalho e no nosso dispositivo clínico da Fábrica de Casos, e é o que de melhor pode acontecer. No início de um processo de formação, assim como no início de um processo de análise, na formação, também há uma suposição de saber no Outro, e no atravessamento do percurso, cada um pode encontrar sua própria voz e não a do Outro, fazendo assim uma marca absolutamente singular, pois não se é nomeado a analista.(!!)             

    Somente por essa via entendemos a formação do analista, que não é uma transmissão de saber, mas sim oportunizar o surgimento do desejo do analista, que poderá se fazer por diferentes temas e textos, por isso oferecemos uma pluralidade de dispositivos (!) onde além da transmissão da psicanálise, se abre essa possibilidade de transparecer o percurso da análise de cada um e a emergência do desejo do analista.             

    A BFC não tem a menor intenção de intitular ninguém, pois isso seria acolher ao desejo de reconhecimento que vai na contramão da formação. Não é necessário, portanto, que seja endereçado a qualquer tipo de grado para acolher um pedido de nomeação, já que respeitamos o momento de formação e de autorização de cada um. Vale salientar que a autorização do analista é resultado de um processo de análise pessoal, onde resulta possível o surgimento do desejo do analista. Não se trata auto-titulação ou de uma “auto-(ri)tualização”, como diz Lacan. Esta autorização não advém do eu. Assim como o desejo do analista não corresponde ao desejo de ser analista, sendo este último um desejo como qualquer outro que o sujeito possa vir a manifestar. O desejo do analista é a função que torna possível o exercício da psicanálise. Neste ponto Lacan é taxativo: quem conduz a cura é o desejo do analista.  Neste sentido, ainda sublinhamos que de forma alguma se trata de dar provas de um acúmulo de saber. Acreditamos que a autorização de um analista não passa por esta via, e sim de forma absolutamente singular, na medida em que tenham como base o tripé já estabelecido por Freud e subscrito por Lacan. Seguindo o aforismo lacaniano de que “o analista autoriza-se de si mesmo e por alguns outros”, concordamos que é função da Instituição, por via dos diversos espaços propostos acima, oferecer um lugar privilegiado de escuta a este processo que ocorre no privado e que assim, pode vir a se tornar público.    

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