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CLÍNICA

 

     A clínica psicanalítica, costuma-se dizer, é solitária.

     E isto, no âmbito do analista frente a sua escuta e seu ato analíticos, é bem verdade.

   Porém, no âmbito das instituições de transmissão e formação, desde sempre existem espaços para a discussão clínica.

    Discussão compartilhada entre pares (que são verdadeiramente ímpares, quer seja pela trajetória sempre singular, quer seja porque não existe uma escuta padrão) que praticam e partilham dos mesmos referenciais conceituais.

     Na BFC valorizamos a preservação da escuta do analista bem como o sigilo dos casos, por isso nosso dispositivo de trabalho clínico é a FABRICA DE CASOS PURA CANCINA.

    A Fábrica de Casos é um dispositivo de trabalho clínico, os participantes se unem ao redor de um texto estabelecido pelo relato de um caso de um psicanalista de fora do grupo, texto estabelecido pela escuta do caso, fazemos então esse primeiro trabalho que é uma produção escrita de um relato, nossa primeira fabricação esta na produção de uma escrita a ser lida da fala do caso.  A partir desse texto estabelecido começamos a nossa fábrica, articulamos nossas hipóteses diagnósticas, discutimos, retomamos textos de Freud, de Lacan, dentre outras bibliografias.

    Nos questionamos como articular um caso que ainda está em curso? E como expor um caso fora de uma análise de controle? Seríamos como Freud que em nome da transmissão exporíamos nossos casos, correndo o risco de serem reconhecidos? Como fica a escuta de um analista e a condução de um caso quando sofre tantos questionamentos? Sendo assim, instituímos a Fábrica de Casos como nosso dispositivo clínico, dispositivo de trabalho e articulação clínica.

   Quem nos auxiliou a ir em busca desse formato de articulação foi a saudosa Pura Cancina, e nas palavras dela acrescento: “...qual é o Outro da Fábrica? Qual é o Outro da clínica? Se trata da disciplina do comentário. Da interpretação? Se trata de interrogarmos se há pontos de intersecção entre a verdade do analista que é aquele que põe a trabalhar a verdade do outro com a verdade do comentarista que é quem está em relação a verdade do texto”.  Texto esse que será o estabelecido por todos, porém haverá a leitura que cada um fara desse texto comum. Por isso, nem só, nem juntos! É junto no testemunho e nas colaborações desse percurso, mas a leitura do caso/texto, é absolutamente singular.

    Há uma relação entre esse nem só nem juntos daquilo que se passa num percurso de análise, uma vez que aqueles que se deitam no divã serão assistidos sem ter uma assistência, assim como num cartel, e é o que de melhor pode acontecer. Há no início de uma analise, assim como no inicio de um processo de formação, de um cartel e num inicio de elaboração de um caso, uma suposição de saber, e no atravessamento do percurso, cada um pode encontrar sua própria voz e não a do Outro, fazendo assim uma marca absolutamente singular.

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